quinta-feira, 17 de julho de 2008

Educação, academia e baboseiras

Por Gabriel Perissé
Se é certo, como dizia um personagem de Shakespeare (Henrique VIII, na peça de mesmo nome), que "as palavras não são atos", também é verdade que as palavras atuam. Por isso falamos e escrevemos. Acreditamos no seu poder. Ou nos dedicaríamos apenas a fazer, fazer, fazer, sem contar nada a ninguém, sem nada anunciar ou comentar.

A vida acadêmica é o lugar das palavras, palavras que nascem da pesquisa, da reflexão. E essas palavras por vezes incomodam, como ficou manifesto na reação da secretária estadual de Educação em São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, quando da famosa entrevista que concedeu à revista Veja (ed. nº 2047) em fevereiro deste ano.

Dizia Maria Helena nessa entrevista (convém anotar e guardar suas palavras...) que um dos maiores problemas da educação em São Paulo é o nível profissional dos docentes. Quando Veja lhe perguntou sobre possíveis soluções, a resposta foi curta e grossa: "Num mundo ideal, eu fecharia todas as faculdades de pedagogia do país, até mesmo as mais conceituadas, como a da USP e a da Unicamp, e recomeçaria tudo do zero."

O elogio ideológico

As palavras que vêm da USP e da Unicamp, e de outras instituições universitárias, podem (e devem) incomodar. Serão consideradas "baboseiras ideológicas" por quem se considera capacitado a agir mais do que a pensar, alegando não ter tempo a perder com discussões.

No entanto, são precisamente as palavras da academia que, não raramente, cobram do poder público menos palavras e mais ações! Como é o caso do artigo "Ensino sem demagogia" (Folha de S.Paulo, 13/07), de Dermeval Saviani (professor emérito da Unicamp), que vale a pena difundir.

O artigo, em essência, pede (estamos em época de campanha eleitoral...) que os políticos sejam coerentes com os seus discursos. De fato, afirmar com entusiasmo que a educação é prioridade e negar essa afirmação com a prática configura um comportamento cínico e demagógico dos políticos predominantes. Isso, sim, são baboseiras ideológicas: manipular as palavras para manter o outro sob controle. Concretamente: gastar o verbo e negacear as verbas.

Saviani, contudo, deveria esclarecer um importante aspecto da questão. No artigo, relaciona a precariedade das condições de trabalho do professorado paulista ao PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), lançado pelo MEC em 2007. Não é o momento de estabelecer essa relação... ainda.

Boa parte da problemática situação educacional de São Paulo é fruto das decisões tomadas nos últimos 14 anos por um grupo que, hoje, critica as ações e palavras do MEC. Exemplo disto é o elogio (ideológico) que o deputado federal Paulo Renato fez àquela inesquecível entrevista de Maria Helena...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Um pequeno causo de “Bigode”

Todo lugar tem as suas personagens folclóricas, porém no João Paulo esse número parece ser cada vez maior. Certa vez me convidaram para tomar uma cachaça no Caratatiua, bairro tão próximo do João Paulo que as pessoas se confundem em saber onde realmente se encontram. Pois bem, como não seria diferente, em rodada de cachaça, era uma boa sacanagem, e nisso Bigode era muito bom. O cara era um contador de causos, cada um mais difícil de acreditar que o outro, entretanto, ficava muito puto se alguém falasse que ele estava mentindo.

Bigode como sempre era o centro das atenções. Seus casos chamavam a atenção da rapaziada que se acabava de rir cada vez que ele dava fim em uma estória. Numa dessas narrativas, ele nos contou uma situação que tinha acontecido com ele no passado. Então ele começou a explanar a aventura que havia vivido.

- Rapá, eu era bem novinho, era ainda muito moleque, devia ter uns 17 anos, hoje já estou com quase 57. Sempre gostei muito de festas, e no interior, ah meu amigo! Ai mesmo é que eu não aquietava o facho. Pois bem, em uma dessas festinhas do interior, passei por uns dos momentos mais loucos da minha vida. Eu estava sentado só observando uma mulher dançando. O engraçado é que ela fazia questão de dançar sozinha, apesar da insistência de muitos rapazes que se encontravam no clube. A mulher era muito bonita e isso chamava a atenção dos machos que lá se encontravam. Eu, sempre muito gaiato, e modéstia à parte, sempre fui muito bonito, fui ver se a senhorita me concedia uma dança. Cheguei perto dela e cumprimentei a moça, logo começamos a conversar. O velho aqui, bom de lábia, em poucos minutos já estava dançando com a moça. Naquele momento, só pensava em tirar uma casquinha, e assim comecei a passar a mão pelo pescoço dela, foi então que encontrei um buraco. Ai eu pensei – Porra, que merda é essa aqui? – Passei o dedo de novo e enfiei um pouco dentro do buraco, pude perceber que a mulher se mexia de uma forma engraçada. Então, levei o dedo ao nariz e sentir um cheiro de merda. Porra, não pode ser! Repetir o gesto e lá estava o mesmo fedor, dessa vez ainda mais forte. Comecei a ficar aflito e a desconfiar do acontecido. Foi então que criei coragem e perguntei para aquela mulher que parecia uma ninfetinha de seus 17 anos – Quantos anos o meu amor tem – E ela simplesmente me respondeu, da forma mais inocente possível – Tenho 65 anos meu amor, farei 66 depois de amanhã – Caralho, eu sabia! A mulher fez tanta plástica, esticou tanto o couro, que o cú dela foi parar no pescoço.

O pessoal todo se acabou de sorrir, porém, não tinha um corajoso para dizer que Bigode estava mentindo.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um fim de tarde em um bar no João Paulo

Ontem fui no João Paulo para pagar umas contas etílicas. Aquele bairro é mesmo fabuloso e, cada vez que vou lá sinto saudades do tempo em que corria naquelas ruas, das amizades que o tempo e vida se encarregou de afastar. Por falar em vida, ontem recebi a notícia que Raimundinho (um amigo) tinha falecido. Quero deixar aqui a minha lembrança por esse camarada que era uma boa pessoa, pai de família dedicado e grande profissional.

Pois bem, os bares ontem estavam lotados, a galera no João Paulo bebe muito! Sempre falei que o cara que quisesse largar de beber, tinha primeiro que se mudar do bairro. Você vai saindo de casa, já tem um filho da mãe te convidando para beber. Tem bar que abre 5h da manhã e a galera já ta tomando todas, até parece que aqueles “pinguços” não dormem.

Fui ao bar da minha Comadre saldar umas dividas etílicas, que nasceram da necessidade de beber, porém, sem dinheiro para pagar. E por lá, quando fui chegando já encontrei um miserável que falou:
- Senta ai Nielsen, pega um copo ai Chiquinha (dona de um bar no calçadão).

E eu, mais filho da mãe, ainda aceitei o convite, até por que como se diz, “nunca vi defunto rejeitar cova”. Por lá, no meio de um copo e outro, cerveja vai cerveja vem, a galera do Licor (cachaça) chegou. Ai meu amigo, quando essa galera se junta sai de baixo. Nessa turma tem os apelidos mais engraçados que se possa imaginar: Língua de Vaca, Boca de Assopra Ovo, Fala Fino, Rei do Gado, Bitola, Cara de Gato e Cara de “Misera”.

Eu estava conversando com meu parceiro Faustão, que na verdade se chama Dioglas, o apelido foi dado por que o rapaz, é, digamos, um pouco gordinho. Bitola se aproximou e começou a prosear. No meio da prosa eu perguntei a ele:
- Bitola, você não tava internado até outro dia?
- Estava, só que já estou melhor...
- Que está melhor eu não sei...
- Estou de boa meu parceiro. O médico disse que eu já estava liberado para voltar para casa.
- Pó, fico feliz por você.

Nesse instante, Língua de Vaca, que já estava colocando um palmo de língua para o lado de fora, falou meio enrolado, devido o atrapalho da língua que já estava pesada:
- Esse bicho é um louco. O médico mandou ele voltar para casa e não para o bar.

Bitola retrucou a intromissão de Língua de Vaca:
- Esse bicho é muito encabuloso. Pelo que sei tu é sapateiro e bebedor de cachaça, nunca ouvi falar que era médico.

Houve um princípio de confusão, a galera se levantou e afastou os dois valentões. Nesse momento Bitola veio novamente em direção a nossa mesa e falou:
- Esse encabuloso deve é cuidar dessa língua que ele fica colocando para fora.

Nesse momento eu perguntei a ele:
- Mas Bitola, pelo que eu estou sabendo, o médico falou para você largar de beber, caso contrário morreria.
- O médico realmente falou para eu parar de beber, mas só a Caninha do Engenho, então agora eu só tomo Pitú.

Esse João Paulo! Como eu digo, só presta filmado, por que se contar, ninguém acredita.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Quem puder, por favor, divulgue

EM DEFESA DA LIBERDADE E DO PROGRESSO DO CONHECIMENTO NA INTERNET BRASILEIRA


A Internet ampliou de forma inédita a comunicação humana, permitindo um avanço planetário na maneira de produzir, distribuir e consumir conhecimento, seja ele escrito, imagético ou sonoro. Construída colaborativamente, a rede é uma das maiores expressões da diversidade cultural e da criatividade social do século XX. Descentralizada, a Internet baseia-se na interatividade e na possibilidade de todos tornarem-se produtores e não apenas consumidores de informação, como impera ainda na era das mídias de massa. Na Internet, a liberdade de criação de conteúdos alimenta, e é alimentada, pela liberdade de criação de novos formatos midiáticos, de novos programas, de novas tecnologias, de novas redes sociais. A liberdade é a base da criação do conhecimento. E ela está na base do desenvolvimento e da sobrevivência da Internet.

A Internet é uma rede de redes, sempre em construção e coletiva. Ela é o palco de uma nova cultura humanista que coloca, pela primeira vez, a humanidade perante ela mesma ao oferecer oportunidades reais de comunicação entre os povos. E não falamos do futuro. Estamos falando do presente. Uma realidade com desigualdades regionais, mas planetária em seu crescimento.

O uso dos computadores e das redes são hoje incontornáveis, oferecendo oportunidades de trabalho, de educação e de lazer a milhares de brasileiros. Vejam o impacto das redes sociais, dos software livres, do e-mail, da Web, dos fóruns de discussão, dos telefones celulares cada vez mais integrados à Internet. O que vemos na rede é, efetivamente, troca, colaboração, sociabilidade, produção de informação, ebulição cultural. A Internet requalificou as práticas colaborativas, reunificou as artes e as ciências, superando uma divisão erguida no mundo mecânico da era industrial. A Internet representa, ainda que sempre em potência, a mais nova expressão da liberdade humana.

E nós brasileiros sabemos muito bem disso. A Internet oferece uma oportunidade ímpar a países periféricos e emergentes na nova sociedade da informação. Mesmo com todas as desigualdades sociais, nós, brasileiros, somo usuários criativos e expressivos na rede. Basta ver os números (IBOPE/NetRatikng): somos mais de 22 milhões de usuários, em crescimento a cada mês; somos os usuários que mais ficam on-line no mundo: mais de 22h em média por mês. E notem que as categorias que mais crescem são, justamente, "Educação e Carreira", ou seja, acesso à sites educacionais e profissionais. Devemos assim, estimular o uso e a democratização da Internet no Brasil. Necessitamos fazer crescer a rede, e não travá-la. Precisamos dar acesso a todos os brasileiros e estimulá-los a produzir conhecimento, cultura, e com isso poder melhorar suas condições de existência.

Um projeto de Lei do Senado brasileiro quer bloquear as práticas criativas e atacar a Internet, enrijecendo todas as convenções do direito autoral. O Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo quer bloquear o uso de redes P2P, quer liquidar com o avanço das redes de conexão abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet se tornem delatores de seus usuários, colocando cada um como provável criminoso. É o reino da suspeita, do medo e da quebra da neutralidade da rede. Caso o projeto Substitutivo do Senador Azeredo seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de um dia para outro, em criminosos. Dezenas de atividades criativas serão consideradas criminosas pelo artigo 285-B do projeto em questão. Esse projeto é uma séria ameaça à diversidade da rede, às possibilidades recombinantes, além de instaurar o medo e a vigilância.

Se, como diz o projeto de lei, é crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida", não podemos mais fazer nada na rede. O simples ato de acessar um site já seria um crime por "cópia sem pedir autorização" na memória "viva" (RAM) temporária do computador. Deveríamos considerar todos os browsers ilegais por criarem caches de páginas sem pedir autorização, e sem mesmo avisar aos mais comum dos usuários que eles estão copiando. Citar um trecho de uma matéria de um jornal ou outra publicação on-line em um blog, também seria crime. O projeto, se aprovado, colocaria a prática do "blogging" na ilegalidade, bem como as máquinas de busca, já que elas copiam trechos de sites e blogs sem pedir autorização de ninguém!

Se formos aplicar uma lei como essa as universidades, teríamos que considerar a ciência como uma atividade criminosa já que ela progride ao "transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado", "sem pedir a autorização dos autores" (citamos, mas não pedimos autorização aos autores para citá-los). Se levarmos o projeto de lei a sério, devemos nos perguntar como poderíamos pensar, criar e difundir conhecimento sem sermos criminosos.

O conhecimento só se dá de forma coletiva e compartilhada. Todo conhecimento se produz coletivamente: estimulado pelos livros que lemos, pelas palestras que assistimos, pelas idéias que nos foram dadas por nossos professores e amigos... Como podemos criar algo que não tenha, de uma forma ou de outra, surgido ou sido transferido por algum "dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular"?

Defendemos a liberdade, a inteligência e a troca livre e responsável. Não defendemos o plágio, a cópia indevida ou o roubo de obras. Defendemos a necessidade de garantir a liberdade de troca, o crescimento da criatividade e a expansão do conhecimento no Brasil. Experiências com Software Livres e Creative Commons já demonstraram que isso é possível. Devemos estimular a colaboração e enriquecimento cultural, não o plágio, o roubo e a cópia improdutiva e estagnante. E a Internet é um importante instrumento nesse sentido. Mas esse projeto coloca tudo no mesmo saco. Uso criativo, com respeito ao outro, passa, na Internet, a ser considerado crime. Projetos como esses prestam um desserviço à sociedade e à cultura brasileiras, travam o desenvolvimento humano e colocam o país definitivamente para debaixo do tapete da história da sociedade da informação no século XXI.

Por estas razões nós, abaixo assinados, pesquisadores e professores universitários apelamos aos congressistas brasileiros que rejeitem o projeto Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo ao projeto de Lei da Câmara 89/2003, e Projetos de Lei do Senado n. 137/2000, e n. 76/2000, pois atenta contra a liberdade, a criatividade, a privacidade e a disseminação de conhecimento na Internet brasileira.


André Lemos, Prof. Associado da Faculdade de Comunicação da UFBA, Pesquisador 1 do CNPq.

Sérgio Amadeu da Silveira, Prof. do Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, ativista do software livre.
João Carlos Rebello Caribé, Publicitário e Consultor de Negócios em Midias Sociais

sexta-feira, 4 de julho de 2008

MOMENTO LITERÁRIO: VINICIUS DE MORAES

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

O VELHO E A FLOR

Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.

Soneto a quatro-mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

SONETO DO AMOR MAIOR

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Entrevista com Kelly Campos, Jornalista e Autora do livro "Para não dizer que não falamos de cinema: o movimento do super-8 no Maranhão (1970 a 1980)"

No último dia 18 de junho, as jornalistas Kelly Campos e Luana Camargo, lançaram o livro “Para não dizer que não falamos de cinema: o movimento de super-8 no Maranhão (1970-1980)”. O evento fez parte da programação do 31º Festival Guarnicê de Cinema, e aconteceu no Centro de Criatividade Odylo Costa, Filho.

O livro é resultado da monografia das duas autoras no curso de Jornalismo da Faculdade São Luís. As autoras fizeram um resgate de uma história bastante significativa, onde mais de uma centena de filmes foram produzidos na capital maranhense. “Esse ciclo produtivo, que perdurou por mais de 10 anos, em São Luís, e ganhou prêmios nacionais, pode ser caracterizado como um movimento de Cinema Super-8 e envolvia nomes hoje bastante conhecidos no cenário cultural da nossa cidade: Murilo Santos, Euclides Moreira Neto, Nerine Lobão, Ivan Sarney e muitos outros”, comentou Kelly Campos, autora do livro.

O PONTODECULTURAPT, conversou com Kelly Campos sobre cinema, política e incentivos à cultura no Estado. Em uma conversa franca e objetiva a autora nos mostrou a sua percepção sobre essas temáticas que são cada vez mais exploradas pelos meios de comunicação e acadêmicos.




PontodeCulturaPT - A década de 70 foi muito importante por diversos motivos, que incluem conquistas políticas em anos de repressão e grandes movimentos sociais e culturais em prol de garantir direitos que estavam sendo cerceados pelo Regime Militar. Você observa o movimento do Cinema Super-8 em São Luís, como um movimento que lutava contra o momento político do país?

Kelly Campos - Eles procuravam por meio dos filmes mostrar o que a censura não permitia. Só que a maioria das produções mostravam a cara do Maranhão, suas festas populares, danças, o cotidiano.

PontodeCulturaPT – O movimento durou exatamente dez anos e teve a produção de mais de uma centena de filmes. Atualmente o cinema maranhense não é tão expressivo, apesar de ter um festival que já ganhou proporções internacionais, a falta de incentivo ainda é um vilão para as produções culturais no Maranhão?

Kelly Campos - Não, o movimento demorou mais, mas tínhamos que delimitar nosso tema por causa da monografia. E nestes dez anos foram realizados noventa e oito filmes. Quanto à produção atual, acho que realmente está faltando incentivo das autoridades competentes.

PontodeCulturaPT - A pesquisa e elaboração do livro não foram fáceis. Tive a oportunidade de testemunhar a aflição e correria de vocês para que tudo fosse entregue no tempo determinado. Defenderam a monografia e depois ainda tinham que publicar o livro, que só foi rodado graças à intervenção de Euclides Moreira Neto. E a Faculdade São Luís? Qual foi o apoio dado pela instituição onde estudaram e nasceu esse sucesso?

Kelly Campos - Hehehehhe... (ai Ni!) Nenhum... Mas também não fomos pedir. Somente depois de já termos conseguido a publicação com Euclides é que a Faculdade, por meio da Lila (amiga de profissão e também de sala de aula) , nos ajudou a divulgar. Isso do livro. Mas agora, Luana está tocando um projeto de áudio book e, para este sim, a faculdade esta apoiando cedendo o laboratório de rádio para a gravação.

PontodeCulturaPT – O livro tem uma novidade na estrutura do texto. Ele foi escrito como se fossem cenas, como uma grande filmagem, que obedece a cortes, avanços e recuos. Você mesmo diz que o texto se movimenta, como isso acontece?

Kelly Campos - Isso acontece por causa da narrativa não linear que muitas vezes descreve o passado, o presente, um filme daquela época. Para que o leitor-telespectador possa sentir o movimento.

PontodeCulturaPT – o lançamento do livro contou com uma boa presença do público. Podemos afirmar que o livro é já é um sucesso?

Kelly Campos - Acho que não, mas estamos buscando isso. Para que assim mais pessoas possam conhecer nosso trabalho e conhecer essa produção que houve na década de 70 no Maranhão. Mas só o fato de podermos reunir vários cineastas daquela época nos deixou muito felizes.

PontodeCulturaPT – Esse é só o primeiro de vários livros, ou você prefere não adiantar nada para os seus leitores?

Kelly Campos - Essa pergunta acho melhor não colocar. Porque tanto eu como Luana iremos seguir caminhos diferentes. Acho, sim, que queremos lançar outros livros, mas agora sozinhas.