quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um fim de tarde em um bar no João Paulo

Ontem fui no João Paulo para pagar umas contas etílicas. Aquele bairro é mesmo fabuloso e, cada vez que vou lá sinto saudades do tempo em que corria naquelas ruas, das amizades que o tempo e vida se encarregou de afastar. Por falar em vida, ontem recebi a notícia que Raimundinho (um amigo) tinha falecido. Quero deixar aqui a minha lembrança por esse camarada que era uma boa pessoa, pai de família dedicado e grande profissional.

Pois bem, os bares ontem estavam lotados, a galera no João Paulo bebe muito! Sempre falei que o cara que quisesse largar de beber, tinha primeiro que se mudar do bairro. Você vai saindo de casa, já tem um filho da mãe te convidando para beber. Tem bar que abre 5h da manhã e a galera já ta tomando todas, até parece que aqueles “pinguços” não dormem.

Fui ao bar da minha Comadre saldar umas dividas etílicas, que nasceram da necessidade de beber, porém, sem dinheiro para pagar. E por lá, quando fui chegando já encontrei um miserável que falou:
- Senta ai Nielsen, pega um copo ai Chiquinha (dona de um bar no calçadão).

E eu, mais filho da mãe, ainda aceitei o convite, até por que como se diz, “nunca vi defunto rejeitar cova”. Por lá, no meio de um copo e outro, cerveja vai cerveja vem, a galera do Licor (cachaça) chegou. Ai meu amigo, quando essa galera se junta sai de baixo. Nessa turma tem os apelidos mais engraçados que se possa imaginar: Língua de Vaca, Boca de Assopra Ovo, Fala Fino, Rei do Gado, Bitola, Cara de Gato e Cara de “Misera”.

Eu estava conversando com meu parceiro Faustão, que na verdade se chama Dioglas, o apelido foi dado por que o rapaz, é, digamos, um pouco gordinho. Bitola se aproximou e começou a prosear. No meio da prosa eu perguntei a ele:
- Bitola, você não tava internado até outro dia?
- Estava, só que já estou melhor...
- Que está melhor eu não sei...
- Estou de boa meu parceiro. O médico disse que eu já estava liberado para voltar para casa.
- Pó, fico feliz por você.

Nesse instante, Língua de Vaca, que já estava colocando um palmo de língua para o lado de fora, falou meio enrolado, devido o atrapalho da língua que já estava pesada:
- Esse bicho é um louco. O médico mandou ele voltar para casa e não para o bar.

Bitola retrucou a intromissão de Língua de Vaca:
- Esse bicho é muito encabuloso. Pelo que sei tu é sapateiro e bebedor de cachaça, nunca ouvi falar que era médico.

Houve um princípio de confusão, a galera se levantou e afastou os dois valentões. Nesse momento Bitola veio novamente em direção a nossa mesa e falou:
- Esse encabuloso deve é cuidar dessa língua que ele fica colocando para fora.

Nesse momento eu perguntei a ele:
- Mas Bitola, pelo que eu estou sabendo, o médico falou para você largar de beber, caso contrário morreria.
- O médico realmente falou para eu parar de beber, mas só a Caninha do Engenho, então agora eu só tomo Pitú.

Esse João Paulo! Como eu digo, só presta filmado, por que se contar, ninguém acredita.

Um comentário:

Anônimo disse...

Só podia ser João Paulo mesmo.Conhecendo o pouco que conheço sei que, isso tudo acontece mesmo.O conto ficou muito bacana.