quarta-feira, 12 de março de 2008

UMA HISTÓRIA DE CONTRASTES

casa onde Aluízo Azevedo escreveu "O Mulato"
Aluísio Azevedo é sem discussão uma das maiores personalidades literárias maranhense. Polêmico, revolucionário e dono de uma habilidade incomum para a escrita, foi o primeiro escritor brasileiro a viver exclusivamente da literatura. Em 1876, aos 19 anos, Aluísio embarcou para o Rio de Janeiro, onde já morava o seu irmão mais velho, Artur Azevedo. Chegando no Rio de Janeiro, matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, que nos dias atuais é conhecida como Escola Nacional de Belas Artes, esse interesse pela pintura vem desde a infância e revelou no jovem maranhense uma enorme necessidade de conhecimento e aperfeiçoamento no campo das artes.

Para garantir a sobrevivência, o jovem Aluísio começou a fazer charges para periódicos da época, como: O Figaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. Com a morte do pai, em 1878, retornou para São Luís com a incumbência de tomar conta dos negócios da família. Chegando à província, percebeu que ela se encontrava tal qual ele havia deixado anos atrás. A sociedade continuava muito preconceituosa e cada vez mais fechada em si, na qual se sustentavam grupos com bastante influência na vida econômica e política do Maranhão.

A família Azevedo foi vítima do preconceito social, esse mal feroz que imperava nas raízes sociais de São Luís. Esse tratamento ríspido se deu quando a mãe de Aluísio separou-se do primeiro marido, de quem sofria muitos maus-tratos. Tempos depois, através de amigos, Emília Amália conheceu o jovem viúvo, David Gonçalves, que a acolheu em seus braços, devido a essa união escandalosa para a época, a mãe do jovem Azevedo passou dois anos refugiada em sua casa para não sofrer discriminação da sociedade local.

Nesse contexto sepulcral da alma humana, Aluísio começa a escrever o seu maior sucesso literário: O Mulato; no qual ele expõe todas as mazelas e insignificâncias de uma sociedade de fachada. Soma-se a esse cenário a indisposição do autor com o clero, já que os padres tinham o jovem Azevedo como uma ameaça à ordem e aos princípios da época.

Por tudo o que fez pela arte, Aluísio deveria ser mais valorizado em sua terra natal. Afirmamos isso com base empírica de quem já produziu um trabalho acadêmico sobre o assunto. Quando começamos o processo de coleta de dados para escrever sobre esse ícone, fomos descobrindo coisas que nos fizeram repensar o tratamento dado pelos governos à história e memória das grandes personalidades brasileiras.

Milhares de pessoas passam por dia em frente à casa onde Aluísio Azevedo escreveu O Mulato, e não se dão conta de como aquela casa é importante para a própria narração dessa história. Aquele espaço poderia está servindo para mostrar não só a vida e obra de um dos maiores escritores do Brasil, mas também estaria sendo um eterno espaço de fomentação de todas as manifestações artísticas do Maranhão.

Entretanto, a casa está abandonada e caindo por falta de manutenção. Tenho dúvidas de que o próprio governo tenha conhecimento desse espaço. Caso tenha, fica então a pergunta: Por que deixar aquela casa em tal estado de putrefação? Em países desenvolvidos, tenho certeza que estaríamos apreciando a cada dia novas descobertas sobre os nossos ilustres artistas, e vendo nascer candidatos a reconstruir o que foi um dia a “Atenas Brasileira”.


Mirante onde foi escrito "O Mulato"






2 comentários:

Anônimo disse...

Nielsen,
Parabéns pela matéria. Eu já li O Mulato, mas nunca imaginei que a ex-sede do Sindicato dos Urbanitários tinha sido a morada do escritor. Valeu,
Ed Wilson

Anônimo disse...

Importantíssimo esse alerta que fizeste acerca da casa ocupada por Aluísio Azevedo. Penso que isso precisa amplamente divulgado, afinal de contas os governos maranhenses já deveriam ter se dado conta que o Estado é um celeiro dos melhores escritores do país e resagatar-lhes a memória valoriza nossa cultura e eleva a auto-estima do nosso povo tão abatido com tantas misérias financeiras, intelectuais.