segunda-feira, 24 de março de 2008

Sob a lájea fria

Uma grande contribuição de uma amiga.

Anne Carol
(Estudante de Jornalismo)


Manhã de sábado. Dia ensolarado. Pegar um bronze, sair com os amigos, cineminha com o love... Parecem boas opções para começar o final de semana, não acham? Porém, o passeio fúnebre no Cemitério do Gavião foi a bola da vez. Esse sem dúvidas foi o lazer mais incomum da minha vida!

O Tur sepulcral no Gavião propõe conhecer um pouco mais da história de personalidades ilustres, como o poeta Bandeira Tribuzzi, a líder política Maria Aragão, os escritores Sousândrade e Aluízio Azevedo, o ex-governador do Maranhão Benedito Leite, a “digníssima” Kiola Sarney, e aquela de “Simpáticas feições, cintura breve/ Graciosa postura, porte airoso/ Uma fita, uma flor entre os cabelos [...]”. Sabem de quem estou falando? Não! Pois essa aí é Ana Amélia, musa inspiradora de Gonçalves Dias.

E como não podia faltar, o inusitado. Narrativas bizarras também fizeram parte do rol cemiterial. Conta-se que uma garota chamada Ilma, se envenenou aos 21 anos e só contou ao padre o motivo. É aquele ditado: Três podem guardar um segredo se dois estiverem mortos. A noiva-cadáver que foi enterrada com todo o seu enxoval. O gato que não deixa o jazigo de Tribuzzi por nada! Só algumas vezes para dar uma olhadinha na mulher do poeta. Vida além-túmulo? Reencarnação? Guardião? Seria possível? Ah... não me leve a sério, isso é só para quem acredita .ok. Existem ainda aquelas histórias exemplares como a do médico Neto Guterres, que aceitou fazer o parto de uma leprosa e acabou morrendo contaminado pela doença (ossos do ofício!).

Enfim, essa experiência incomum (como já disse) serviu para me lembrar ainda mais do meu e do seu carma que é a morte. Embora a tradição cristã estabeleça que a morte seja apenas uma espécie de sono profundo no qual mergulham os homens à espera do dia do Juízo Final, esse conceito que poupa gerações ao longo de séculos da idéia aterradora do fim definitivo não faz desaparecer a nossa sentença. Ela permanece. A morte continua sendo a única certeza da vida, é a expressão máxima da efemeridade das coisas. Lembre-se sempre, amável leitor, que algum dia Terás o sono sob a lájea fria.

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